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Retorno à junção

“Diante do louco, diante do delirante, não se esqueça que você é, ou foi, analisante, e que também fala, ou falava, sobre o que não existe”.

Assim, Miller encerrava seu texto Ironía[i], em 1993.

Nesse texto, ele propôs opor à clínica diferencial entre neurose e psicose, uma “clínica universal do delírio”.

Delirante e analisante, ambos falam do que não existe. Nisso não há diferença. Porém, não têm a mesma relação com lalíngua.

Miller ouvira de Lacan, em 1979: “todo mundo é louco, quer dizer, delirante”[ii].

Podemos supor que Lacan se apoiou em Freud para proferir tal primor? Em que ponto da teoria freudiana?

No Freud que considerava que tudo era sonho, mas principalmente no Freud que discutiu consigo mesmo sobre a diferença entre neurose e psicose.

Primeiramente, no seu texto Neurose e psicose[iii] (1923), diferenciou, por um lado as neuroses, nas quais o Eu, obediente à realidade, reprimia e assim se separava de uma parte do Isso e, por outro lado, as psicoses, nas quais a dependência do Isso as separava de uma parte da realidade. Portanto, a perda da realidade era um fenômeno psicótico e não tinha lugar na neurose.

No ano seguinte, entretanto, em A perda da realidade na Neurose e na psicose,[iv] Freud reconhece que isso não condiz com a observação de que, na neurose, a relação do sujeito com a realidade também é perturbada, e que a própria neurose é uma fuga da realidade.

E é muito interessante ver como já a partir desse momento, sem que esteja enunciado como tal, é a psicose que permite ler a neurose e não o contrário.

“A contradição subsiste – disse Freud, a contradição entre os dois textos com um ano de diferença – somente enquanto nos limitarmos a considerar a situação inicial da neurose, na qual o Eu realiza a repressão de uma tendência instintiva obedecendo aos ditames da realidade. Porém isso não é, ainda, a própria neurose. Esta consiste, mais propriamente, nos processos que trazem uma compensação à parte prejudicada do Isso…” isto é, na neurose também há uma perda da realidade a partir de algo que não cessa de não se inscrever no simbólico.

O sofrimento é causado pelas ficções que o sujeito inventou para tratar o real. Quando chegam ao psicanalista é para tratar o tratamento que inventou para si, porque o faz sofrer demais.

Trata-se, então, de reduzir as ficções autoterapêuticas até esgotar o máximo possível o sentido – nunca totalmente –, recortar o sintoma e chegar, mais além, ao seu uso lógico, o que chamamos de sinthome ao final da análise.

Nas psicoses, o que muda não é apenas o estofo do que substitui o vazio no simbólico, mas, correlativamente, é também o lugar do psicanalista.

Este deixa de fazer uso do semblante mais apropriado para perturbar a defesa, para se tornar o ponto fixo, aquele que diz uma espécie de “por aí sim, por aí não…”, que permita ao sujeito sustentar-se no mundo com o seu invento, delirante, e torná-lo o mais eficaz possível frente às investidas do real.

“Consequentemente”, diz Freud, “tanto a neurose como a psicose são a expressão da rebeldia do Isso contra o mundo exterior (entendamos aqui o efeito do empuxo pulsional e do eco desse empuxo no corpo) ou, se preferir, de sua incapacidade para se adaptar à realidade (necessidade), diferenciando-se muito mais entre si na primeira reação inicial – a perda da realidade – do que na sua consecutiva tentativa de reparação”[v].

Em ambas, então, trata-se da “criação de uma nova realidade”[vi]. Fantasmática na neurose, delirante na psicose.

Porém, se considerarmos que ambas são produções de sentido ante um gozo insensato, ambas são delirantes.

Lacan demorou um pouco mais do que Freud para contornar essa questão, mas a levou muito mais longe.

Entre o “Não é louco quem quer”, escrito nas paredes do serviço de plantão de Sainte Anne e o “todo mundo é louco, quer dizer, delirante”, passaram-se alguns anos. Apesar de não se oporem, a consequência da passagem de uma afirmação à outra é radical.

Então, embora tenhamos encontrado o fundamento freudiano de “todo mundo é louco”, isso nos coloca frente a um Freud para quem o arquétipo do analisante era o neurótico.

Para nós, por outro lado, o arquétipo é o ‘todos loucos’ e aí teremos que distinguir “o todo mundo é louco, quer dizer, delirante”, pelo fato de serem seres falantes, o que determina uma inadequação radical entre o real e o mental, distingui-lo, digo, da loucura de cada um, isto é, a invenção pela qual se fez o nó, o que se transmite no passe e, por outro lado, a singularidade de um sujeito psicótico.

Em Ironia, Miller nos diz que o esquizofrênico é o único sujeito que não se defende do real por meio do simbólico, porque para ele o significante é real.

Lembro-me de um paciente psicótico em uma instituição que, quando lhe disseram algo ante as suas inquebrantáveis certezas, que convinha deixar uma porta aberta, tentando instaurar uma dialética, ele se levantou e foi abrir as portas do consultório, demonstrando o valor real do significante.

Foi uma ironia. A ironia esquizofrênica que vai contra o Outro, que mostra que o Outro não existe. Contrariamente ao humor, que não acontece sem o Outro.

Seria um erro tomar isso como um Witz. Não é dirigido a nenhum Outro, mas denuncia seu estatuto de semblante.

Nesse sentido, na dependência do semblante para tratar o real, há uma fronteira sutil entre neurose e psicose.

 

Loucura e liberdade. O louco é um homem livre

Uma das primeiras coisas que eu disse ao meu analista foi que queria analisar-me para ser livre.

Depois soube que Lacan disse aos psiquiatras que o louco é um homem livre.[vii]

Soube, experimentei, melhor dizendo, no decorrer da análise, que o sujeito se encadeia aos S1, significantes mestres, de onde ele quer ser visto pelo Outro.

O ser falante fica prisioneiro das identificações que lhe deram um lugar no Outro. “O ser do homem não pode ser compreendido sem sua loucura, assim como não seria o ser do homem se não trouxesse em si a loucura como o limite de sua liberdade”.[viii]

Conhecemos essa afirmação de Lacan em De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose.

Miller, em uma conferência feita em Paris, em 1987 – Sobre a lição da psicose – disse que “… a tese que sustenta essa afirmação (” O ser do homem… “) é que nenhuma identificação é operativa, nenhum traço, nenhuma marca no sujeito é operatória sem uma decisão do ser.”

A loucura consiste então em livrar-se do apelo das identificações que têm um efeito de massa.

É a recusa em consentir com a identificação ao Pai, com o significante, em recusar a impostura paterna. É a recusa do semblante, o que seria a quota esquizofrênica de toda psicose.

O que Miller destaca da frase de Lacan em De uma questão preliminar… é que a foraclusão é uma decisão do ser. Uma insondável decisão do ser.

Adverte aqui sobre o risco de ficar tão ofuscado pelo conceito de foraclusão como um estruturalismo subjacente, que poderíamos desconhecer o estatuto do sujeito no psicótico. Como se a foraclusão fosse um mero mecanismo, sem correlação com uma decisão do ser, uma posição subjetiva.

Uma posição subjetiva caracterizada por uma falta de amor à língua.

É preciso um amor a lalíngua para que a junção íntima do sentimento de vida ocorra.

Freud chamou o efeito desse amor, Bejahung. O louco é um homem livre porque ele recusa a identificação, começando pela mais insondável, a freudiana identificação ao pai que recusa como impostor frente ao real.

O psicótico é livre porque não colocou a causa de seu desejo no campo do Outro. Não cedeu o objeto.

A partir daí restam duas vias ao psicótico: uma, é a covardia moral da mania e a tristeza, consequência do deslizamento metonímico devido à foraclusão do NP, podendo também chegar à identificação melancólica com o objeto dejeto.

A outra é a via da coragem do bem dizer e do rigor do delírio, que decorre da lógica que se segue à foraclusão.

“Toda lógica é correlativa a uma foraclusão”, diz Miller,[ix] para ressaltar que a recusa da atração das identificações é condição para a invenção do saber frente ao real.[x]

Outro ponto para ler a neurose pela psicose: é pela recusa da identificação que se abre a via da invenção.

Evidentemente, o psicótico demonstra que não se pode ser livre sem estar encadeado a outra coisa.

Ele pode ser livre das identificações que fazem laço social, mas ele não deixa de ser espreitado pela heteronomia da linguagem, como me dizia recentemente uma mulher.

Essa certeza de que o que ele diz está fora, vem de alguma forma de um exterior radical. Embora use da linguagem para falar e tentar dizer o que quer, ele não deixa de ter o sentimento de que isso, de que se serve para falar, está fora.

É uma experiência de lalíngua, que não se pode ter tão claramente.

Talvez seja por isso que alguns psicóticos se impõem um rigor em termos de bem dizer, o que os coloca no registro da ética. Bem dizer o que sofrem, como recurso para o tratamento do fenômeno xenopático.

 

O psicótico se libera das identificações, mas não das intrusões da língua

O neurótico não se libera de nenhuma das duas, apenas observa desconhecendo o que está determinado pelo acontecimento de corpo no encontro com lalíngua e, em análise, ele pode aspirar a libertar-se do peso das identificações, inclusive reduzi-las a traços que participam das marcas de um estilo.

Desse ponto de vista, uma análise levada até o fim, aproxima a experiência da heteronomia da língua.

 

A junção íntima

Quando lemos em De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose (1958), que, em certos casos, pode haver uma desordem na junção íntima do sentimento de vida no sujeito, estamos no zênite do bem dizer lacaniano.

Uma vez enunciado “junção íntima”, já não há como voltar atrás em um ponto: a vida dos seres falantes, seus laços, suas paixões e satisfações são feitas de peças soltas, que de alguma forma devem ser juntadas.

Em 1958, o operador que realiza a junção é o falo. Ali, lemos que o sujeito alienado no simbólico, isto é, mortificado pelo significante, “… se identifica (ao falo) de forma oposta com seu ser vivo”[xi]. Ou também que “… a criança se identifica com o objeto imaginário desse desejo (o da mãe) na medida em que a própria mãe o simboliza no falo”[xii]. É uma armação simbólico-imaginária.

Porém, sabemos, para Lacan isso muda.

O Nome-do-Pai e o semblante fálico se revelam cada vez mais impotentes para regular o gozo. Têm perdido sua primazia no tratamento do real, tornando-se uma solução entre outras com as quais o ser falante conta para tratar o gozo.

Com a pluralização dos Nomes do pai, efeito da foraclusão generalizada, cada um se defronta com a tarefa de encontrar sua própria resposta frente ao real com o qual lhe cabe viver.

Nesse sentido, todo discurso é defesa contra o real, e justifica a ironia de Lacan: “Todos somos loucos, quer dizer, delirantes”.

Um delírio é tão delirante como uma fantasia, no sentido de que ambos são construções de defesa contra o real sem lei. Uma tentativa de colocar em ordem as peças soltas que nos constituem.

Com a deflação do Nome-do-Pai, e com a clínica do sinthome que lhe é correlativa, a expressão “desordem na junção íntima da vida”, adquire mais peso. Mais vida.

Miller inventa um conceito que vai muito bem com a ideia de junção: psicose ordinária.

A estes dois, junção e psicose ordinária, acrescentaremos um terceiro ponto de referência: o gozo feminino.

O Nome-do-Pai já havia sido colocado em questão com a introdução do objeto a como o que cai como resto do discurso.

A princípio conectado com o real pulsional, torna-se, ele também, semblante, ou seja, é a parte elaborável do gozo pelo simbólico.

A partir do Seminário 20, Mais, ainda,[xiii] o não elaborável do gozo chama-se gozo feminino.

Lacan então solta a mão de Schreber para tomar Joyce e a clínica do arranjo sinthomático, para transitar no campo da psicose.

A foraclusão se generaliza, mais além da foraclusão restrita ao Nome-do-Pai, no significante de / A mulher, que não existe.

Cada um trata a maneira pela qual essa foraclusão generalizada nele se inscreve.

Portanto, à foraclusão generalizada, que introduz o gozo feminino, corresponde uma clínica do sinthome.

Agora podemos ler “Todo mundo é louco, quer dizer, delirante”, como a ironia de Lacan para dizer que todos os nossos discursos são defesa contra o real que se manifesta nesse gozo inominável.[xiv]

Isso implica deixar para trás os tipos clínicos, para orientar-se pela singularidade das respostas sinthomáticas.

Porém Miller é muito claro em seu texto Efeito do retorno à psicose ordinária: nada disso nos exime de diagnosticar neurose, psicose, e o tipo de cada uma.

Psicose ordinária é um conceito escindido entre, por um lado, um desejo de extrema precisão e, por outro, o desejo de capturar o que é mais característico de cada um, as invenções do analisante e sua escrita.

Miller diz algo assim quando compara o conceito com o espírito americano, escindido entre “um desejo pela extrema precisão e os números e, por outro lado, o desejo de ser capaz de expressar o próprio pensamento e seguir as próprias ideias”.[xv]

Os sinais discretos, sintagma que agora se emparelha ao de psicose ordinária, são discretos no sentido de mínimos, não chamativos ou espetaculares como na psicose desencadeada, mas que também o são no sentido de elemento discreto, tal como se refere Lacan ao significante.

Ou seja, trata-se de uma clínica que inclui matizes e a localização de “o diferente”.

O diferente de todo o outro que ouvimos no analisante, dissonante. Não o diferente dos outros, o que poderia denotar um tom segregativo.

O que buscamos são os sinais discretos de uma externalidade, que indicam a desordem na junção mais íntima do sentimento de vida.

Quanto à externalidade corporal,[xvi] o detalhe discreto corresponde a verificar se o analisante precisa de algum meio artificial para habitar seu corpo.

Um paciente que tinha uma série de tatuagens explicava-me que ele as havia feito em momentos importantes da sua vida. Era a sua maneira de recordá-los e fixá-los.

A tatuagem tinha a função de parar o tempo e evitar a inevitável perda com as marcas no corpo.

O problema foi que um dia ele deixou de gostar dessas tatuagens e ficou muito angustiado. Já não serviam, elas o incomodavam.

O que havia servido para se ligar ao próprio corpo, a tatuagem no lugar do Nome-do-Pai, agora era vivida com um grande pesar.

A intervenção foi quase de senso comum: “teremos que inventar algo, porque você terá que conviver com isso.”

A solução veio pelo lado da transformação das tatuagens. Não se podia tirá-las, mas se podia intervir em suas cores. Ele decidiu transformá-las de muito coloridas para tatuagens monocromáticas. Isso aplacou a angústia.

 

Passe, psicose ordinária, autismo e a investigação da junção mais íntima

Há que se dizer também, Miller esclarece, que a psicose ordinária é uma ideia inspirada no passe, no sentido de que não existe, e tampouco convém, uma definição muito precisa. Apenas umas grandes linhas, porque uma definição muito exata impediria escutar o singular.

Com a psicose ordinária acontece o mesmo. Não se trata de encontrar os parâmetros universais para diagnosticá-la, mas de nos permitir escutar o que há de inusitado em cada caso.

Assim, com a clínica continuísta, podemos aventurar-nos a aproximar o cerne do passe ao que ocorre na psicose ordinária e compará-lo com o que acontece no autismo.

O sinthome – conceito nascido da pesquisa sobre Joyce, desabonado do inconsciente – é o modo singular pelo qual cada um realiza a articulação entre os elementos absolutos, o corpo e a lalíngua, contingentemente.

Nos testemunhos dos AE assistimos o momento em que o analisante foi confrontado com essa articulação dos elementos absolutos de sua existência contingente.

Tal é o testemunho de Oscar Ventura, em Buenos Aires. Uma frase finalizava o relato da novela familiar sobre seu nascimento: “entonces me tienen, nazco” [então eles me têm, eu nasço], e o sujeito escuta a voz do analista que pontua de forma diferente: “entonces, me tienen asco” [então eles me têm asco].

Uma pequena torção na escrita que revela uma identificação ao objeto dejeto decisiva em sua vida.

Interessa-me particularmente a elaboração de Ventura sobre essa interpretação:

“Enigmático (o dito do analista), radicalmente surpreendente, que destitui o analista da cena deixando-me à mercê de minha própria relação com lalíngua… Se eu posso situar um momento de passagem de analisante a analista é este. Ao tocar a identificação no objeto de dejeto, desbaratava-se também a impostura do traço melancólico, um gozo, que parecia selado ao destino trágico, se esvaziava”.

No momento da dissolução da transferência, o analisante aparece sozinho, em sua dimensão de corpo falante, corpo afetado pela lalíngua de tal forma que toda uma vida está destinada a fazer ressoar um silêncio que só se faz escutar no encontro com um analista.

Bem, digo que o passe, pelo que mostra e demonstra, a psicose ordinária, pela invenção de algo que faz acreditar em uma sólida articulação dos elementos absolutos e contingentes que a determinam, e o autismo, por seu fracasso na articulação desses elementos, são os lugares privilegiados para investigar a ordem e a desordem na junção mais íntima do sentimento de vida do sujeito.

Lacan soube situar ali, logo no início, o ponto crucial da vida do ser falante, tanto para a sua felicidade quanto para o seu sofrimento.

 

Tradução: A. Claudete A. Livramento Prado

Revisão: Yolanda Vilela

[i] Miller, J.-A. “Ironía”, en Consecuencias nº 7, noviembre 2011.

[ii] Lacan, J. ¡Lacan por Vincennes! Lacaniana N° 11, Grama Ed., Buenos Aires, p. 7.

[iii] Freud, S. “Neurosis y Psicosis”, en Obras Completas Tomo XIX, Amorrortu, Buenos Aires. 1988.

[iv] Freud, S. “La pérdida de realidad en la neurosis y en la psicosis” en Obras Completas Tomo XIX, Amorrortu, Buenos Aires. 1988.

[v] Ídem.

[vi] Ídem.

[vii] Lacan, J. Breve discurso a los psiquiatras. Versión y traducción: Pablo Román, Roberto Pinciroli y Félix Contreras.

[viii] Lacan, J. De una cuestión preliminar a todo tratamiento posible de la psicosis. Escritos 2. Ed. Paidós, Buenos Aires.

[ix] Miller, J.-A. “Sobre la lección de la psicosis”, en Espacio Analítico 6-7 (1988).

[x] Idem.

[xi] Lacan, J. De una cuestión preliminar a todo tratamiento posible de la psicosis. Escritos 2. Siglo Veintiuno Editores, Buenos Aires. 2010, p. 529.

[xii] Idem., p. 531.

[xiii] Lacan, J. Seminario Libro 20, Aún. Ed. Paidós. Buenos Aires.

[xiv] Miller, J.-A. El inconsciente y el cuerpo hablante. In: Scilicet. Grama Ed. Buenos Aires, 2015, p. 28.

[xv] Miller, J.-A. Efecto retorno sobre la Psicosis ordinaria, en Consecuencias 15, Mayo 2055.

[xvi] Ídem.